Karina Beraldo vive em São Paulo e é artista e ilustradora. Formada em moda, ela começou a trabalhar com design têxtil e está há 12 anos na área, desenhando estampas para marcas conhecidas do mercado nacional. Mas foi há cinco anos, depois de um grande hiato, que voltou a desenhar e ilustrar coisas pessoais, desenvolvendo a habilidade em cursos e se encontrando no desenho como ferramenta de expressão que a permite achar inspiração e aprendizado constante.
Em sua produção artística, é constante a presença de técnicas como aquarela, acrílica, nanquim e lápis de cores na criação de figuras femininas, tema fundamental em seu trabalho, com formas que questionam a sensualidade e padrões corporais. O que para ela é um ato político: ao pintar uma figura com a qual mulheres podem se identificar e se sentir representadas, ela faz um trabalho autobiográfico, descobrindo a própria imagem e desafia padrões, dando voz a mulheres livres com seus corpos e suas expressões.
Com suas obras que representam o corpo gordo, ela já participou de exposições como a “Boteco da Diversidade”, do Sesc Pompeia, tratando a visibilidade gorda. Você pode acompanhar a artista no Facebook, Instagram e em seu Canal no Youtube, onde compartilha o seu processo criativo.
Quando você começou a fazer arte? Quais as motivações para esse início?
“Eu desenho desde criança, comecei copiando livros, criando figurinos pras minhas bonecas de papel, desenhando continuações de historias dos gibis da Barbie. Meu pais me incentivavam com livros ilustrados e lápis de cor. Fiz faculdade de moda e comecei a trabalhar com estamparia e então fiquei 11 anos sem desenhar nada que não fosse para meus clientes!
No fim de 2012 parecia que eu estava incompleta, comecei a procurar escolas e cursos livres pra voltar a desenhar. Entrei no curso de aquarela com foco em criação de personagens da Sabrina Eras, era um desafio, pois nunca tinha conseguido pintar direito com aquarela e acabei despertando uma paixão! Hoje eu até uso outros materiais mas não consigo me afastar muito das pastilhas.”
Quais as suas inspirações para criar?
“A inspiração pode vir de qualquer coisa, se a gente estiver com olhos e coração abertos! Já fiz uma serie inteira inspirada em uma musica, sou movida a musica, gosto muito também de salvar fotos de referencia, principalmente de povos e tribos diferentes pelo mundo! As vezes um livro me inspira, uma pessoa, uma viagem (minhas ultimas ferias, em que viajei pro coração do Brasil, estão fermentando na minha cabeça, mas ainda não coloquei no papel.)”
Que técnicas você usa para fazer arte?
“A base dos meus trabalhos é o desenho à lápis e a pintura em aquarela, mas gosto de misturar nanquim e lápis de cor, as vezes uso guache, folha de ouro, spray! Tenho feito estudos em canetinhas e me arriscado com tinta acrílica em painéis e paredes, mas sempre tentando reproduzir o efeito da aquarela.”
“A arte é tudo na minha vida, é o que me faz querer viver, levantar todos os dias, conhecer pessoas e ir a lugares novos! Desenho todos os dias, é um aprendizado constante se sem descanso! E ser uma pessoa que leva beleza à outras pessoas, que distribua alguma sensibilidade através de imagens, cores e traços. “
O que você representa na sua arte?
“Essa é uma pergunta difícil, porque eu acho que a gente representa principalmente nós mesmos. Porque, por mais que eu não desenhe uma mulher de cabelo cacheado, ruivo e olhos e de olhos castanhos, mas desenho uma loira, uma negra, uma gorda ou uma magra, é a minha visão e minha interpretação dessas imagens, é o que eu decidi retratar, o que coloquei como ornamento e as cores que elas tem pra mim. Gosto de desenhar mulheres, é meu principal tema! Desenhos mulheres de muitos jeitos e corpos (alguns ainda são estudos, não tenho ainda coragem de mostrar ao publico) mas é como se fosse também um trabalho em frente ao espelho.”
“Tento desenhar mulheres de vários tipos, cores, mas mulheres livres, com seus corpos e com sua expressão”
Sua arte dialoga com alguma ideologia, política ou tem alguma relação militante?
“Acho que pintar uma figura com as quais as mulheres se identificam, se sentem representadas, é um ato politico! Já fiz artes para eventos de militância contra a gordofobia, o corpo gordo é muito presente do meu trabalho.”
Você se vê dentro de alguma cena artística?
“Não sei se existe uma só cena especifica, mas existe um movimento de mulheres artistas que se conectam pela internet e que os trabalhos acabam influenciando umas às outras! As maiores influencias do meu trabalho são artistas mulheres. Existe uma generosidade entre as mulheres artistas que eu conheço, nos ajudamos, trocamos informações, dicas e conselhos, compartilhamos eventos, encontros e feiras.”
Você vive da arte que faz?
“Mais ou menos, eu trabalho com moda, sou formada em Desenho de Moda e trabalho com Design Têxtil, então sim, trabalho com desenho, mas não com minhas ilustras. Atualmente vendo ilustrações por encomenda e vendo desenhos em feiras e exposições de arte.”
Você sentiu alguma dificuldade ao se inserir na arte por ser mulher?
“Eu vejo que meu trabalho toca mais as mulheres, talvez pela temática, mas acontece muito de meus maiores críticos serem homens. Eles ficam especialmente incomodados por eu não sofrer quase criticas por desenhar nus. Tenho explicar que é porque meus desenhos não são hipersexualizados! O meio dos quadrinhos e da arte de rua são os mais machistas, apesar de o da arte de rua já ter se aberto muito nos últimos tempos, o de quadrinhos é mais relutante. Vejo muitos movimentos acontecendo por iniciativas femininas, então acho que o mercado hoje é bem promissor.”
“Não sei se existe uma só cena especifica, mas existe um movimento de mulheres artistas que se conectam pela internet e que os trabalhos acabam influenciando umas às outras! As maiores influencias do meu trabalho são artistas mulheres.”
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