Clarice Sena é natural de Caxias do Sul (RS) e atualmente vive em Porto alegre, onde estuda História e atua como artista visual, com uma pesquisa visual voltada para a produção de colagens manuais e digitais, aproveitando os restos de imagens encontradas no cotidiano e que, desconstruídas do concreto, são ressignificadas em novas imagens carregadas de elementos do simbólico e da memória entrelaçados em um contraponto entre o destruir e o criar. Para ela, a arte é um motor de investigação sobre a vida, fonte de poéticas e potência de emoção, reflexão e libertação, e por isso indissociável de um caráter político. É a partir da arte que ela coloca para fora seu universo e experiências particulares e os comunica, os ampliando para uma dimensão coletiva, e mais que alguém que é apenas observada se faz também a sujeita que olha de volta, e nessa troca de olhares é pavimentado o caminho para o diálogo com o espectador.
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Quando você começou a produzir arte? Quais as motivações para esse início?
Sempre gostei de arte, então resolvi experimentar. Foi quase que natural. Na época eu estava consumindo muitas histórias em quadrinhos e fiquei motivada a começar a desenhar.
Teve alguma inspiração?
Vários quadrinhos de publicação independente e artistas cujo trabalho eu consumia na internet.
“Acredito que a arte é um motor de investigação sobre a vida, é uma fonte de poética e de esperança para desenvolvermos nossas potências. A arte me leva sempre em busca do extraordinário, mesmo que ele se esconda no comum: uma catarse. Gostaria de influenciar as pessoas com a minha arte da mesma forma que me sinto tocada pelo trabalho de vários artistas, quero provocar emoção, reflexão, libertação.”
O que você representa na sua arte?
Trabalho com sobras e restos, ou desconstruindo o que é concreto, sempre criando algo novo. Faço contraponto entre destruir e criar, a partir de mim e dos outros, para o mundo interior e exterior.
Que técnicas você usa para fazer arte?
Utilizo técnicas variadas, mas principalmente a colagem. Gosto de seguir um estilo próprio que fuja da plasticidade.
Sua produção artística e os elementos abordados nela tem alguma relação com ser mulher?
Sim. Porque no meu trabalho coloco muitas questões pessoais minhas e ser uma mulher sempre esteve envolvido com isso.
“Sempre tive medo do autorreferencial por ouvir que isso, na produção artística de mulheres, era considerado negativo. Ouvia que as mulheres eram sempre muito autobiográficas e, especialmente na literatura, tinham narrativas sentimentais. Por ter medo de que isso transformasse minha produção em algo que eu não desejava, decidi me esquivar desse tipo de questionamento. Prestes a completar vinte anos de idade, resolvi quebrar essa barreira e ir além das temáticas que permeiam meu “universo particular”: chegou a hora de falar do próprio universo. Mais do que alguém que é observada, quero olhar de volta. Essa troca de olhares é uma comunicação e, mais do que nunca, quero me comunicar com o mundo e com as pessoas.”
Sua arte dialoga com alguma ideologia, política ou tem alguma relação militante?
Não é com nenhuma ideologia específica, embora hajam algumas referências de esquerda na minha produção. Porém, existe, sem dúvidas, um caráter político, pois todas as nossas escolhas e nossas palavras são, de alguma forma, políticas. De modo mais profundo, a arte sempre questiona as coisas ao seu redor e isso já é político.
Você vive da arte que faz?
De vez em quando ganho algum dinheiro vendendo prints ou originais. Me sustento com bolsas da universidade e ajuda dos meus pais.
Você se vê dentro de alguma cena artística?
Quando eu morava em Caxias me via como parte de uma cena artística, mas agora que moro em Porto Alegre ainda não encontrei o meu lugar.
Você sentiu alguma dificuldade ao se inserir na arte por ser mulher?
Sim. Porque minha produção foi tratada como cerebral ou radical demais para uma mulher, como se eu não pudesse falar de alguns assuntos.
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