Leila Groth Ibarra, artista plástica e ilustradora natural de Novo Humburgo (RS), é graduada em Artes Visuais pela Universidade Feevale e participante dos Projeto Circular e Coletivo Mariposa, coletivo criado para fazer e divulgar arte feminista. Sua produção aborda o feminino e o corpo de forma visceral, tendo, declaradamente, a arte como forma de luta feminista. A questão da figura feminina aparece em suas obras como reflexo de sua trajetória, tendo seus primeiros contatos com a arte de forma terapêutica após ser diagnosticada com depressão, estes temas dialogando com seu próprio processo de aceitação em torno de sua identidade e corpo. A partir disto, o estudo sobre o corpo feminino ganha forma em seus trabalhos, chegando a menstruação e sua utilização como matéria artística, apresentando um corpo que transgrede o poder exercido sobre ele, feito poética criadora: “ Trabalho o universo feminino em meus trabalhos, seja utilizando crochê e bordado junto com ilustração, serigrafia e pintura, seja utilizando meu sangue menstrual para pintar. Mas a relação não está somente nos materiais e técnicas, mas também na temática, apresentando corpos femininos com mensagens de amor-próprio, de autoaceitação, e também trazendo as dificuldades enfrentadas por nós.”
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Quando você começou a produzir arte? Quais as motivações para esse início?
Comecei desenhando na infância, desde muito pequena. Continuei fazendo isso pois era uma criança muito introspectiva e sozinha, então criava meu universo, personagens, minhas companhias.
Teve alguma inspiração?
Na época não foi algo consciente. Na minha adolescência decidi me dedicar à arte e fiz vários cursos de desenho, HQs e pintura. Me inspirava muito nos mangás japoneses, na época, e a influência oriental me acompanha ainda hoje. Mas são muitas inspirações pra colocar aqui!
Qual a relação da arte na sua vida? Como ela te influência e como você quer influenciar os outros com ela?
A arte se tornou uma forma de terapia para mim, e minha companheira constante, durante a adolescência, quando fui diagnosticada com depressão. A arte foi minha razão de existência, e ainda hoje segue sendo meu norte, minha essência. É o que me move. Como sempre teve uma função terapêutica pra mim, e me mostrou que eu não estava sozinha no mundo, gostaria que minha arte fizesse o mesmo por outras pessoas, tanto mostrando coisas do âmago do ser humano, questionando a relação de si consigo mesmo e colocando mensagens positivas para as pessoas.
“Como sempre teve uma função terapêutica pra mim, e me mostrou que eu não estava sozinha no mundo, gostaria que minha arte fizesse o mesmo por outras pessoas, tanto mostrando coisas do âmago do ser humano, questionando a relação de si consigo mesmo e colocando mensagens positivas para as pessoas”.
O que você representa na sua arte?
As palavras-chave da minha produção são corpo, visceralidade e feminino no momento. Apresento na minha arte o corpo para falar do emocional, do interior humano, e a visceralidade aparece pois uso justamente o interior do corpo – vísceras, órgãos, sangue – para falar do interior humano. O feminino surgiu com mais força pois percebi que já estava falando sobre isso, então me apropriei de vez da temática. Isso se relaciona comigo diretamente por ser mulher e ter tido, ao longo da vida, várias questões relativas ao meu corpo e ao meu emocional, então é uma arte que fala muito do meu íntimo, mas buscando dialogar com o outro no processo.
Que técnicas você usa para fazer arte?
Uso principalmente desenho, pintura e gravura. A pintura é o mais preponderante na minha produção, mas trabalho ela no campo expandido, com materiais não convencionais e misturando outras técnicas com ela. A minha base é uma pintura muito tradicional, mas desconstruo isso em meu processo. O desenho serve como base para a pintura enquanto rascunho, mas também em ilustrações. Na gravura exploro principalmente a serigrafia por sua fácil reprodutibilidade e por permitir realizar trabalhos que podem ser vendidos a um preço mais acessível e também distribuídos.
Sua produção artística e os elementos abordados nela tem alguma relação com ser mulher?
Tem relação direta pois trabalho o universo feminino em meus trabalhos, seja utilizando crochê e bordado junto com ilustração, serigrafia e pintura, seja utilizando meu sangue menstrual para pintar. Mas a relação não está somente nos materiais e técnicas, mas também na temática, apresentando corpos femininos com mensagens de amor-próprio, de autoaceitação, e também trazendo as dificuldades enfrentadas por nós.
Sua arte dialoga com alguma ideologia, política ou tem alguma relação militante?
Sim, minha arte está ligada ao feminismo, buscando levar para outras mulheres imagens e mensagens empoderadoras.
“É uma arte que fala muito do meu íntimo, mas buscando dialogar com o outro no processo.”
Você vive da arte que faz?
Sim, produzo e vendo minhas artes em feiras, leilões, exposições, mas também trabalho com curadoria e produção cultural e ainda como instrutora de arte marcial.
Você se vê dentro de alguma cena artística?
Sim, já estou inserida na cena artística de minha região por ter estudado em universidade, mas também busco me inserir em meios mais informais e que visem levar a arte para a rua, para as pessoas, de forma que não fique confinada na galeria e no museu.
Você sentiu alguma dificuldade ao se inserir na arte por ser mulher?
Creio que no universo artístico em si eu não tive dificuldade em me inserir principalmente por haverem muitas mulheres artistas na região e sermos maioria (ou pelo menos parelho com os homens) na universidade onde estudei. Dito isso, percebo alguns preconceitos ainda com abordar questões específicas do feminino de forma não convencional, como, por exemplo, usando o sangue menstrual, como venho fazendo – nesse caso encontrei muita resistência, inclusive de mulheres.
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